Alice e André, primeiro as senhoras...

Assistir a um filme português no cinema é obviamente um acto de coragem.
Ouvir a mítica frase “Pode sentar-se onde quiser…” enquanto nos conferem o bilhete, é a mais bárbara tentativa de desmoralização. Infelizmente, o síndrome da sala vazia que acompanha o cinema nacional, acaba por prejudicar os bons filmes que vão surgindo, invariavelmente apenas visionados por uma imensa minoria.
Em 2004 surgiu “André Valente”, primeiro filme de Catarina Ruivo. 2005 é o ano de “Alice”, a primeira longa metragem de Marco Martins. Ambas foram premiadas internacionalmente. “André Valente” recebeu o prémio Dom Quijote no Festival de Cinema de Locarno. “Alice” o Prémio Regards Jeunes do Festival de Cannes.
O curioso nestas duas obras, independentes entre si, é que ambas se focam no tema da infância, da dor causada pela ausência. Mostrar o quão importante é não desanimar na adversidade, o não deixar cair os braços e seguir em frente. Dois testemunhos de coragem!
Em “André Valente”, um miúdo de 8 anos vê o pai sair de casa e, apesar do sofrimento e da idade, aprende a encarar a vida de outra forma, crescendo mais depressa e fazendo amigos. Em “Alice”, um pai perante o desaparecimento da sua filha, recusa perder a esperança em reencontrá-la numa Lisboa fria e cinzenta. Instala 11 câmaras de vídeo pela cidade, procura agarrar-se à rotina do dia-a-dia e continua a ser o profissional de teatro que ri em palco, quando a vida só lhe dá motivos para chorar. Dois filmes dramáticos, mas de uma enorme beleza.
Duas obras do novo cinema português que se fossem americanas ninguém perderia. “Alice” está em exibição. “ André Valente” provavelmente só em algum clube de vídeo mais atento ou contactando a produtora.

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