Peter
Ainda guardo intacto e, com religiosidade só comparável à açoreana, um maço de tabaco comprado por 280$00 na minha primeira visita ao paradisíaco arquipélago. Produzido pela Fábrica de Tabaco Estrela de Ponta Delgada, o maço captou a atenção deste não fumador, pelo desenho da embalagem. As nove ilhas estampadas sob um imenso fundo azul. A cor do Atlântico onde se perdeu a Atlântida. O azul do mar e do Peter.
Os Açores são provavelmente o canto de Portugal mais frágil, no sentido em que Deus abala a terra com uma regularidade superior à do resto do país. Talvez seja esta fragilidade que, associada à enorme beleza humana e natural, torna os Açores tão especiais. Não sou açoreano, nem tenho familiares com origens no arquipélago, apenas tive a sorte de conhecer os Açores pelas mãos de quem os ama e, por essa via, aprendido a gostar deles.
No Sábado passado faleceu aos 80 anos José Azevedo, empresário e proprietário do Peter Café Sport. Para muitos o Peter é apenas o café das t-shirts azuis com a baleia que começaram a encher os liceus e as universidades do continente no pós-Expo 98, no entanto o Peter é muito mais que isso. É uma marca global portuguesa, símbolo da identidade de uma região e orgulho de todos nós. Criado e tornado adulto por alguém que encarnou o conceito com uma lógica diferente da tradicional. A alma como segredo do negócio.
Situado a poucos metros do porto da Horta, o original Peter é ponto de encontro de Iatistas, habitantes da ilha e turistas. Bar que não se limita a cumprir as funções sociais típicas do género de estabelecimento, mas presta igualmente auxílio a todos os marinheiros e respectivas tripulações. Caixa de correio de quem navega em alto mar sem ter apartado postal fixo, museu de gravuras em osso de baleia (Scrimshaw), laboratório do melhor Gin de que tenho memória, eleito na lista de melhores bares do mundo da revista Newsweek.
Há nos Açores que conheço lugares incríveis como as praias de Porto Pim, Água d’Alto ou Pópulo, o Ilhéu de Vila Franca, a Ferraria, a Ponta da Madrugada ou a Lagoa do Fogo. Prazeres inarráveis como uma noite entre amigos ao sabor de Caipirinhas no campo de S. Francisco em pleno verão, depois de um intenso dia de mar e de um divinal bife de Albacora. E depois há lugares assim.
“ Há quem espere por nós assim. Mesmo a meio da rota do fim. Há quem tenha os braços abertos para nos aquecer e acenar no fim. Há quem espere por nós assim. Quando os barcos partem por fim. Há quem tenha os braços fechados, com beijos jurados. Eu voltarei para ti”. Peter’s – Trovante.
http://www.petercafesport.com/cafe.htm
1 Comments:
Não conhecia este fascínio... Sabia que gostavas, mas não a tal ponto.
Um belíssimo texto! Muito bom!
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