Siena. O regresso. Já lá vão nove anos. “Come è possibile?” Viagem num salto por Roma com mudança em Chiusi, sem tempo, infelizmente, para mais Toscana. O comboio sai de Termini ( esse centro nevrálgico do caos italiano) atrasado e, como tal, a ligação corre risco de não se fazer à hora marcada. Mesmo a queimar, lá se consegue passar do Inter-Cidades Napoli-Milano, para o modesto, mas bem mais desafogado regional Chiusi-Siena. Afasto o fantasma de Empoli (noite de 27 de Setembro de 2000, 8 anos antes do meu casamento portanto:), em que, após aquele 2-2 no Artemio Franchi entre a Fiorentina e o Tirol de Innsbruck para a taça UEFA,perdemos a ligação e acabámos a guardar a torre de Pisa até à ligação das 5h da manhã do dia seguinte). Só lamentamos (sei que tu Tiago também o lamentas) a torre não ter caído e não termos entrarmos assim para a História como testemunhas chave do sucedido:).
Chegamos à hora de jantar. A Joana ( è vero la mia moglie:))está pronta para ser surpreendida com a maravilha medieval que persiste por entre as colinas toscanas. Desta vez quase não há malas e não é necessário mapa. Volto a casa. Penso novamente dentro de muralhas e as portas são o meu destino. Apanhamos um táxi. A pressa de chegar não me deixa cumprir a normal caminhada à Erasmus da estação à piazza Matteotti. O Coop está lá. Os campos de ténis também. Em frente à estação parece que abriu uma pequena galeria comercial e um edifico da Universitá per Stranieri (o edifico antigo está à venda…confirmo…). Percorro as ruas com impaciência, mas com um gozo incrível. Banchi di Sopra, Banchi di Sotto, Via di Città, Via di Pantaneto e por último a via Del Porrione. A casa Erasmus está fechada. “Bem me tinham avisado”. (esta é à Sócrates no Gato Fedorento). Será que é mesmo por falta de condições de habitabilidade? A porta da casa dos Baldini também está fechada, mas ainda tem campaínhas e quem sabe aqueles cartazes na cozinha. A padaria em frente mantém-se aberta e há um restaurante novo com pratos típicos toscanos mesmo ao lado ( Grotta Gallo Nero). Jantamos por lá. Recomendo. Excelentes os gnocchi alla ricotta e zucca. Sinceridade fora do comum para italianos. Aconselharam-nos a abdicar da Bistecca alla fiorentina por só fazerem no mínimo cortes de 1kg na peça e ser exagerado só para 2:). Recomendam um bife enorme alternativo e a bom preço!
No pós “cena”, a “Piazza”, a sala de estar de tantas ocasiões. Linda como sempre. De cortar a respiração. A fonte Gaia, a torre e as esplanadas cheias. Está um ar quente de princípio de Outono, ouvem-se os grilos e o cheiro a charutos toscanos anda no ar. Não há movimentações de contradas, mas a cor Siena quente (como diria o extraterrestre ALF sobre o seu pêlo) permanece inalterável.
Não consigo “andare a letto” sem ver o que se passa no Barone Rosso (pouco movimentado) e espreitar se ainda existem os outros ( não deu para ir à Tendenza). Encontro o Tea Room aberto, cheio e igual, mas sem ninguém no "pianoforte". Servem-nos um Zibibbo da Sicília e o chocolate quente da praxe. Perfeito!
Não há “cornetti caldi” de madrugada, mas a manhã é passada entre o Duomo, S.Francesco, S.Martino e S.Domenico. Rezo a Sta. Catarina por todos os que conheci e que me acompanharam nesse ano fantástico mesmo sem ter vindo a Siena. Obviamente gostava de os ter encontrado todos por cá, mas fui "encontrando-os" em diversos sítios. Passo pela faculdade (cripta/biblioteca e bar incluídos). Parece-me que este ano não há ninguém a estudar de pijama:)…
Paramos para comprar uns funghi porcini (nada “grátis”…parafraseando o Aurélio) e o limoncello da praxe. Constato que lançaram no mercado a Acqua di Siena (perfume feminino apenas J) para concorrer com a mundialmente conhecida irmã de terra do presunto. Como estamos na única cidade em que se pode pedir “una pizza e un bicchieri di Chianti da portare in Piazza!”, esquecemos o plano de nos infiltrarmos sem “tessera” na “mensa”. Voltaremos a ele numa próxima visita.
Não há tempo para mais. Perco o Siena – Livorno (também sempre fui mais ViolaJ e acho que até ficou 0-0). Deixamos o último filme de Giuseppe Tornatore, “ Baarìa”, em exibição num dos vários cinemas dentro de muralhas para ver em Portugal, trazemos o som de Nina Zilli para explorar no You Tube ( vale a pena) e a certeza que aquela cidade não deixa mesmo ninguém indiferente.
Siamo tutti? Manca nessuno? Sí, manca, ma dobbiamo andare!
Sicuramente abbiamo sempre Siena!
Ps: Expo Milano 2015 (a quatro horas de Siena...havia aquele bus fantástico:) que oferecia à partida 2 sacos...um com o pequeno almoço e o outro para vomitar) é um dos assuntos do momento em Itália. Ci vediamo li? Daí ...daí ragazzi!