Béu Béu
Leio incrédulo a notícia. Um conjunto de deputados do PSD apresentou um projecto de resolução na Assembleia da República que visa instituir o dia 6 de Junho como o “Dia Nacional do Cão”.
Puxo imediatamente o meu último recibo de vencimento para confirmar que a minha empresa me continua a reter na fonte IRS devidamente. Como é possível gente que ganha a vida com os nossos impostos andar preocupada com uma tolice destas?
Mais, a proposta surge na sequência de uma petição subscrita por mais de 7 mil almas pedindo a criação de tal efeméride. Inacreditável!
Os argumentos pró-dia do béu-béu apelam à sensibilização de todos para o importante papel do cão na vida do Homem (contributos ao nível do combate ao tráfico de droga, no acompanhamento de cegos, entre outros). Não coloco esse papel em causa e até estou disposto a enumerar um conjunto de outros contributos relevantes. No entanto, nada que justifique a criação do dia. Então e o ratinho de laboratório não terá direito ao dia nacional também? E a bicharada toda que nos alimenta, colocando-se à nossa disposição no prato? E o Salmão com o tão precioso Ómega 3? Claro que o cão, segundo os promotores da coisa, é animal para incutir pedagogicamente valores de cidadania nas crianças e nos jovens. Que o digam os jovens das claques, quando os cães do policiamento aos jogos os impedem de incutir valores de elementar justiça nos gatunos do apito…
A escolha de dia 6 de Junho inquietou-me. Este ano pela primeira vez as diversas forças políticas suecas entenderam-se e o dia nacional Sueco foi declarado feriado oficial. Pensei obviamente que era o clássico PSD a inspirar-se no modelo sueco em contraposição clara ao modelo finlandês do Eng. Socrátes. Nada disso, a escolha do dia 6 deve-se à proximidade com o dia da Criança e à necessidade de alertar a sociedade para o não abandono da bicharada antes das férias. Por outro lado, a iniciativa quer-se supra-partidária, até pode ser que os finlandeses alinhem nela e passemos a ver os nossos deputados naquela cena do café+jornal em cima da bancada do hemiciclo, agora acompanhada com biscoito para cão.
Ainda bem que ninguém se lembrou que 6 é mais próximo de 10 do que de um 1. Senão estava em causa a proximidade do cão ao país em escala superior à criança e isso seria muito incómodo…para o cão obviamente.
Enfim, o desejo desta gente é discutir a questão ainda na presente sessão legislativa e consta que o ilustre presidente da Assembleia da República ficou agradado com a proposta. O meu desejo, com deputados destes, é cada vez mais ir viver para a Suécia, como na música dos Divine Comedy “I would like to live in sweden/When my work is done/Where the snow lies crisp and even/’neath the midnight sun/Safe and clean and green and modern/Bright and breezy¡ºfree and easy/Sweden¡ºsweden¡ºsweden¡ºin sweden/I am gonna live in sweden/Please don’t ask me why/For if I were to give a reason/It would be a lie/Tall and strong and blonde and blue-eyed/Pure and healthy, very wealthy/I’ll grow wings and fly to sweden/When my time is come/Then at last my eyes shall see them/Heroes every one/Ingmar bergman/Henrik ibsen/Karin larrson/Nina persson”