JPC

A quase extinta Grande Reportagem publicou no passado sábado um excelente trabalho de 8 páginas intitulado " O Herdeiro de MEC", sobre o public intellectual português do momento, João Pereira Coutinho, ou para os mais familiarizados JPC.

É sempre um prazer ler as crónicas irónicas, ácidas, extremamente bem escritas e divertidas de JPC. Sejam as que pululavam no Independente até 2003, as actuais que minimizam o esforço de comprar 1 Kg de Expresso ao sábado, as da Maxmen em lugares menos próprios ou as quinzenais num dos jornais mais lidos do Brasil, a Folha de S.Paulo.

Aproveito o artigo, para voltar a ler o livro "Vida Independente 1998-2003", conjunto de crónicas de JPC publicadas no semanário. O prefácio de MEC diz ao que volto " Estas crónicas têm de ser lidas, pelo menos, duas vezes: uma vez pela alegria e pela liberdade; outra pela repercussão e pela profundidade." Vou lendo crónica atrás de crónica e escangalho-me a rir.

"A sra. Lili Caneças, num gesto heróico e largamente aplaudido, resolveu recauchutar as peles. Um abraço à Lili. Está muito melhor."- Governo Lili 20.04.2001; " Já esta semana, o segundo momento de esperança: Maria de Belém, abandonando o seu castelo, resolveu visitar as vaquinhas de Vila do Conde. Porquê? Ouçamos a ministra"Tenho um papel de identificação daquilo que são as implicações das decisões a nível de todos os sectores". Tal e qual. A frase mais fabulosamente inane alguma vez proferida por um membro do Governo - sem ser a brincar ou a delirar, ou a vigarizar conscientemente os contribuintes. Saiu-lhe. A sério." - A maldição dos fuínhas 28.01.2000; "Na presença dos meus primos - cinco aborígenes, versados em Chocapic- pude constatar que a figura do século, para eles, é Pedro Abrunhosa. Deus seja louvado! Eu gosto do Pedro Abrunhosa e sempre reconheci nas letras dele um fundo apaziguador de coerência ideológica. Ouçam os discos e verão: ele quer viajar pelo corpo da mulher amada, escorrer pelos seus braços, tocar na sua pele, ondular nos seus cabelos. No fundo, os meus primos adimiram um homem que tem a ambição, pacata e simples, de ser um dia um sabonete. Não é muito? É um começo."- É um começo 30.12.1999;"Qualquer um é capaz de escrever. Até Saramago. Mas a leitura é outra história" - Prata da Casa 23.05.2003;
"Dos 230 deputados, talvez 30 sejam pessoas alfabetizadas. Dessas 30, talvez 20 consigam ler um texto sem mexer os lábios. Dessas vinte, talvez 10 consigam escrever uma frase com sujeito, predicado e complemento directo. O que dizer dos restantes 200?"- A arte da rudeza 22.03.2002;" Deve ser do calor: no espaço de 3 semanas, recebi quatro convites de casamento. Num deles, serei padrinho. Não sei quem é a louca que me coloca nas mãos semelhante responsabilidade. Alegadamente, o padrinho "aconselha" e "testemunha". Pois sim. Eu, conselhos, não dou, exceptuando o clássico "não cometas essa loucura". E como testemunha, tenho dúvidas: a cerimónia é às onze da matina - e eu, às onze, não testemunho nada, excepto a minha própria miséria"- Calores 22.06.2001; " O Portugal Fashion voltou ao Porto.....As moçoilas da moda, segundo me contaram, não comem. Bebem chás, debicam e medicam-se em nome de uma bárbara elegância. Noções estéticas clássicas, que são sempre noções máximas de classe, não moram lá. Beleza, proporção, equilíbrio, harmonia, firmeza? Um pouco de compaixão. E algum bom senso, que é sempre o melhor e o mais difícil dos sensos. Estas petizas deviam estar na escola. Deviam ter uma alimentação rica e variada. Comer fruta e legumes. Praticar desporto. E não lhes fazia mal algum se ainda acreditassem na beleza área das cegonhas. O Porto quer marcar a sua posição no mundo, na cultura e na vida. Eu aplaudo. E acho que seria bom começo - e um profundo acto de caridade- se os organizadores da coisa começassem por dar uma lição severa à cristandade. Eu sei que o Tomé dos Frangos faz desconto para menores. Por isso rapazes levem-nas lá e digam que vão da minha parte" - Uma ida aos frangos 30.10.1998.

Há outras que me fazem pensar em prenúncios, claramente do Norte,já que JPC é de Leça: "Se os portugueses o não quiserem [Guterres], tudo bem, ele vai sossegadamente à vida. Aliás, não só vai à vida como é bem capaz de se enfiar numa acção humanitária e partir, sem reservas, para ajudar os famintos de África"- Um homem que é um santo 28.05.1999; "existe um Carrilho antes de Bárbara. E existe um carrilho depois de Bárbara. Um e outro partilham apenas a poupa."- Sexo é política 13.07.2001 ou ainda em A vida deste rapaz 01.03.2002 em que a rivalidade entre Cavaco e Soares é alvo de análise.

Os 29 anos de JPC são a esperança de o podermos ler ainda por muito tempo.

Fundador do mítico e já extinto blog A Coluna Infame http://colunainfame.blogspot.com/, com Pedro Mexia e Pedro Lomba, tem um site próprio http://www.jpcoutinho.com/ e a sua coluna da Folha de S.Paulo pode ser lida em http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/coutinho.shtml

Peter

Ainda guardo intacto e, com religiosidade só comparável à açoreana, um maço de tabaco comprado por 280$00 na minha primeira visita ao paradisíaco arquipélago. Produzido pela Fábrica de Tabaco Estrela de Ponta Delgada, o maço captou a atenção deste não fumador, pelo desenho da embalagem. As nove ilhas estampadas sob um imenso fundo azul. A cor do Atlântico onde se perdeu a Atlântida. O azul do mar e do Peter.

Os Açores são provavelmente o canto de Portugal mais frágil, no sentido em que Deus abala a terra com uma regularidade superior à do resto do país. Talvez seja esta fragilidade que, associada à enorme beleza humana e natural, torna os Açores tão especiais. Não sou açoreano, nem tenho familiares com origens no arquipélago, apenas tive a sorte de conhecer os Açores pelas mãos de quem os ama e, por essa via, aprendido a gostar deles.

No Sábado passado faleceu aos 80 anos José Azevedo, empresário e proprietário do Peter Café Sport. Para muitos o Peter é apenas o café das t-shirts azuis com a baleia que começaram a encher os liceus e as universidades do continente no pós-Expo 98, no entanto o Peter é muito mais que isso. É uma marca global portuguesa, símbolo da identidade de uma região e orgulho de todos nós. Criado e tornado adulto por alguém que encarnou o conceito com uma lógica diferente da tradicional. A alma como segredo do negócio.

Situado a poucos metros do porto da Horta, o original Peter é ponto de encontro de Iatistas, habitantes da ilha e turistas. Bar que não se limita a cumprir as funções sociais típicas do género de estabelecimento, mas presta igualmente auxílio a todos os marinheiros e respectivas tripulações. Caixa de correio de quem navega em alto mar sem ter apartado postal fixo, museu de gravuras em osso de baleia (Scrimshaw), laboratório do melhor Gin de que tenho memória, eleito na lista de melhores bares do mundo da revista Newsweek.

Há nos Açores que conheço lugares incríveis como as praias de Porto Pim, Água d’Alto ou Pópulo, o Ilhéu de Vila Franca, a Ferraria, a Ponta da Madrugada ou a Lagoa do Fogo. Prazeres inarráveis como uma noite entre amigos ao sabor de Caipirinhas no campo de S. Francisco em pleno verão, depois de um intenso dia de mar e de um divinal bife de Albacora. E depois há lugares assim.

“ Há quem espere por nós assim. Mesmo a meio da rota do fim. Há quem tenha os braços abertos para nos aquecer e acenar no fim. Há quem espere por nós assim. Quando os barcos partem por fim. Há quem tenha os braços fechados, com beijos jurados. Eu voltarei para ti”. Peter’s – Trovante.

http://www.petercafesport.com/cafe.htm

Curtia mais um Barca Velha...

"Sou um músico “escrevinhador”, fumador de charutos, bebedor de vinho, leitor da Bíblia. Sou um exibicionista que adora pintar quadros daquilo que não vê. Um marido, um pai, amigo dos pobres, às vezes dos ricos. Um activista vendedor ambulante de ideias. Jogador de xadrez, estrela de rock em part-time, cantor de ópera no grupo pop mais barulhento do mundo. Que tal?” – Bono Vox in Congresso Internacional para a Nova Evangelização (Lisboa 2005).

A maldição do Coelhomem

A Visão anuncia "PJ fez buscas em casa de Jorge Coelho".
Ainda não percebi se é uma campanha publicitária para atrair espectadores para o novo filme de Wallace & Gromit actualmente nos cinemas ou se é mesmo para levar a sério....

O Ataque Belga

Há um clip de 25 segundos que está na ordem do dia na terra de Lucky Luke, Tintin, Estrumfes e restante bonecada. Um vídeo da UNICEF com o lema “ Não deixem a guerra destruir o universo das crianças” que a televisão belga tem passado nos últimos dias por volta das 21h00. Criada pela delegação local, a campanha inspira-se num conceito simples. Um dos símbolos da infância dos europeus na década de 80, precisamente daqueles que agora têm idade para contribuir, são les Schtroumpf. (Los pitufos espanhóis, The smurfs britânicos, I puffi italianos ou os nossos estrumfes com gasganete e estrumfina).Todos se lembram deles e guardam com nostalgia os tempos em que a aldeia dos anões azuis ocupava as manhãs televisivas. A escolha da UNICEF não é inocente. É seguro que ao passar essas imagens a atenção dos telespectadores passa do prato da comida para o écran. Agora imaginem que estando a aldeia dos ditos em paz, aparece alguém que se lembra de bombardear os cogumelos e matar a “estrumfalada” toda? É basicamente isto que se passa no spot. Um grande murro no estômago e uma refeição estragada.
A campanha visa sensibilizar a opinião pública e ser um forte contributo na angariação de fundos que possam fazer sorrir as crianças resgatadas de cenários de guerra, com grande ênfase no conflito actual do Burundi. Em termos mediáticos o resultado não podia ser melhor, vamos ver se a sensibilidade atingiu a carteira como era esperado.
Por cá, a violência está no facto de a série tradicional passar às 7h45 da madrugada ao sábado….


http://media.putfile.com/end_of_smurfs (vídeo)